O triunfo do analógico sobre o
digital! Pelo menos, por ora.
Com o toca-discos em apreço e
muitos outros belt-drives de entrada
é possível apreciar os novos LPs produzidos pelo mundo afora, bem como toda a
coleção antiga de vinil, desde que bem preservada.
No segundo caso, uma limpeza adequada, em menor ou maior profundidade, é
indispensável. Afinal o sulco dos LPs,
em formato de vala de proporção microscópica, é um propício repositório de
sujeiras e o próprio material do qual é feito o vinil requer uma série de
cuidados.
Outro aspecto que está a me
encantar na fonte analógica diz respeito ao modesto investimento no aparato em questão e
o custo-benefício obtido em relação aos mais modernos CD players e DACs top-tiers. Não é difícil verificar maior naturalidade da
fonte analógica sobre a fonte digital, por melhor que esta soe.
Estou muitíssimo satisfeito
com o austríaco Pro-Ject RPM 10.1 com o braço 10CC Evolution e a cápsula
japonesa Sumiko Blackbird.
Trata-se de projeto bastante
austero, montado na República Tcheca, simples, mas bastante sólido, de peso
considerável, baseado nos conceitos de massas agregadas para fornecer o
necessário isolamento das vibrações causadas pela própria reprodução sonora e
da movimentação no ambiente em que instalado.
Dentre os elementos que tornam realidade este isolamento, estão o uso de
três spikes abaixo da base, mas em
cima de uma plataforma denominada Ground It
3, motor desacoplado e o braço de 10” de fibra de carbono num formato que
parece eliminar eventuais ondas estacionárias em sua estrutura, mais o prato de
acrílico pesado com cerca de 58 mm de altura.
No geral, o projeto vale-se de
conceitos bastante conhecidos e utilizados no universo hiend; nada de pirotecnias ou projetos que chamem
mais a atenção para o seu brilho ou aparência do que para o que realmente interessa, a
reprodução sonora capaz de recriar o evento musical.
A combinação com a cápsula
Blackbird também me pareceu bem sucedida, a julgar pelo resultado final do setup e da própria reprodução, não sendo
necessários ajustes de VTA ou azimute, embora este último seja realizado no corpo do braço, não da cápsula de forma direta. A impressão que temos é que a cápsula fornece
um alto desempenho à custa da ausência de
invólucro, deixando à mostra o “esqueleto” da moving-coil de saída alta (2,5Mv).
Aliás, a saída alta é algo que
nos chamou a atenção, pois tal valor é próprio das cápsulas moving-magnet, mas isto foi facilmente resolvido ajustando-se o pré de phono para um nível mais alto disponível neste, no caso, no Phono II da JR Transrotor.
Fato é que o conjunto aqui
comentado soou muito bem com o phono
stage que havia adquirido para começar a minha apreciação, o Cambridge
Audio com entradas fixas para ambos tipos de cápsula. Mas soou ainda melhor, de forma mágica, com
Phono II, customizado por um amigo audiófilo, com conectores do tipo Vampire e uma fonte digna de seu desempenho.
Pude ouvir os novos LPs do
selo Reference Recordings, gravados pelo Prof. Johnson, como as Danças Sinfônicas, Etudes e Vocalise de
Rachmaninoff, pela Orquestra de Minnesotta, regida por
Seiji Oue, o LP de Dick Hyman, “From the Age of Swing”, dentre outras gravações, sendo
que o primeiro foi objeto de comparação com o respectivo CD, que me pareceu bem
mais flat e com palco menos definido e
natural que a versão em vinil de 200 gramas. Mesmo o LP de Bob Marley, "Kaya", soou magnifíco e grandioso, com um peso nos graves de deixar muita banda metaleira para trás. Enfim, as diferenças são bem sensíveis, para não dizer
gritantes.
Agora, maior surpresa ainda,
causou-me o LP “Pictures at an Exhibition”, do selo Everest. Que gravação!!! Parece que parte do segredo está no peculiar
processo a partir de fitas magnéticas de 35 mm, usadas em películas de filme.
Quanto aos LPs antigos, ouvi
vários LPs de MPB, como o histórico “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e
Lô Borges, o de Tom & Elis, cuja reprodução é encantadora e podemos perceber
a descontração de Elis Regina na parte final da primeira faixa do LP. Dentre
os LPs de artistas internacionais, fiquei empolgado com “Cielo e Terra”, de Al
di Meola, com a participação de Airto Moreira.
Por consistir numa obra quase toda acústica foi possível perceber a beleza de violão do virtuose norte-americano e da percussão do músico brasileiro. Um palco sonoro belíssimo, simples, muito denso mas sem a complexidade de uma orquestra sinfônica, é claro.
Na crítica especializada,
cheguei a ler que o projeto consistiria, na verdade, de um "Pro-Ject RPM 9.2 com testosterona”, que “reproduz
com solidez e finesse" etc. Também consta um
aspecto negativo, segundo o qual o braço seria "um pouco microfônico", o que, tive de conferir, abusando de pressão sonora na minha sala. Nem de longe consegui perceber tal minus. Olha que o toca-discos está posicionado abaixo da altura das caixas torre, distante menos de um metro de cada uma! Isto, nas décadas de setenta e oitenta, em que reinavam os toca-discos de tração direta no motor representaria realimentação ou rumble na certa.
Em suma, longe de desistir dos
arquivos digitais hi-res, pois creio
que os DACs ainda possuem uma longa curva tecnológica a ser percorrida, de modo a
eliminar a malfadada “digitalite”, enquanto a tecnologia acerca do vinil parecer estar para lá de
madura, posso dizer que estou bastante satisfeito com a escolha, num mercado
que apresenta dezenas de modelos e soluções.