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domingo, 12 de agosto de 2012

Como adiantado na minha primeira postagem, aqui estão alguns dos CDs que utilizei nas minhas "avaliações" dos alto-falantes anteriormente comentados e das minhas atuais caixas (Dali Helicon 400 MK2).  Avaliações entre aspas, porque não sou profissional do ramo nem contei com as caixas lado a lado para um confronto A/B, dentre outros requisitos necessários para uma comparação justa (mesmos cabos e eletrônica, elétrica e acústica etc).  Entretanto, o que eu ouso apontar tem amparo no conhecimento comum de tais loudspeakers pelos que os possuem ou já tiveram oportunidade de ouvi-los.
Começo pela obra magistral de Patricia Barber, "Mythologies", da Blue Note, uma verdadeira viagem musical e cultural que me agradou muito a primeira vista (e ainda me agrada), porque além de bem distinta de suas demais obras jazzísticas, eu também conseguia ouvir razoavelmente a linha de baixo de Michael Arnopol mesmo nas caixas quasi-ribbon.  Mas a extensão inteira do contrabaixo, suas notas destacadas e o corpo do instrumento, eu só pude perceber meses após com as Dali, na qual, aquilo que eu considerava razoável nas anteriores, agora em alguns trechos do CD, já me parecia ligeiramente exagerado.  De qualquer forma, é um grande trabalho da cantora e pianista Patricia Barber, que assina todas músicas e letras da obra em tela.  Gosto também dos demais trabalhos dela, mas este é sui generis.  Para mim um CD com fortes chances de agradar roqueiros, principalmente aqueles que apreciam o rock progressivo, pois, como disse, um convite ao voo de Icarus e à aventura de outras figuras míticas que parecem se transportar para a sala de audição.  Fabulosa, é como eu posso transcrever essa obra, mormente se você puder fechar os olhos e se concentrar na reprodução, ou melhor, na música.
Já o segundo CD foi uma grata surpresa para mim, e um dos mais ouvidos até este momento. A obra de Marcelo Bratke, acompanhado da Camerata Vale Música, "Ernesto Nazareth", da Biscoito Fino.  Que delícia de CD! Oportunidade de escutar diferentes eletrônicas com o melhor da música brasileira no Hi-End Show de 2010 no Rio, ainda que não possamos compará-lo a uma gravação de referência, como as inúmeras do Prof. Johnson.  Embora arejada, a gravação parece transmitir um senso de imagem projetada para a frente dos speakers, com instrumentos de percussão ao redor do piano do maestro Bratke, e um bumbo que eu não ouvia nas caixas anteriores (com as Dali agora eu já o ouço em toda a sua extensão e a intenção do músico ao atingir a pele do instrumento).
Passamos agora ao Gold CD de Gary Karr, "Adagio d'Albinoni", da Cisco, colocado pelo revendor das caixas dipolares para a avaliação das baixas frequências.  Fator de convencimento meu quanto à escolha equivocada das quasi-ribbon para o meu gosto musical.  Sou-me bem, mas sem corpo e sem toda a faixa dinâmica, pois falta uma oitava, pelo menos.  Muito transparente sim, mas como se fossem uma reprodução fria, ignorando o corpo dos instrumentos (no caso concreto, do contrabaixo).  Quanto ao CD, maravilhoso para quem gosta de música erudita, muito bem gravada!  Nota 1000 para a faixa 08, "Ave Maria", de Bach-Gounod.
Agora mais dois que expõem os pontos fracos das caixas dipolares em comento. Precursor do jazz fusion, Return to Forever, com os seus "Romantic Warrior" e "Returns" (este ao vivo).  O primeiro é uma dessas obras que possuo bastante memória auditiva, pois o ouço desde a década de 70 e até hoje curto bastante.  Verdadeiro "fusion masterpiece", agora remasterizado na versão em CD, normalmente escolhido nos momentos que desejo ouvir algo mais enérgico e com pulsação, transportando-nos a música para uma batalha medieval (sem quaisquer doses etílicas ou equivalentes, antes que alguém imagine).  Coitadinhas das dipolares!  A pegada do baterista Lenny White fica oca, sem vida, sem profundidade.  Movimentação de ar? Nem pensar nas caixas de fita.  E a "guitarra-metralhadora" de Al di Meola?  Nas Dali, a captação de toda técnica de Di Meola, com profundidade e peso, sem perda da inteligibilidade.  Nas anteriores, muita transparência mas sem qualquer peso na guitarra (alma sem corpo, diria).  Idem quanto aos baixos, acústico e elétrico, de Stanley Clarke e os teclados de Chick Corea.  Parece brincadeira, mas preferia o resultado da reprodução do antigo LP, mesmo com os meus surrados pré e power Cygnus, toca-discos com cápsula LeSon e caixas CCE com drive de 12´.  Podia estar impregnada de toda coloração, distorção e outros aspectos indesejáveis.  No entanto, a reprodução era mais envolvente do que a exibida pelas dipolares.
Com o CD ao vivo de 2008 não foi muito diferente, sendo que a dinâmica das músicas claramente depôs contra as caixas de fita.
Passo ao SACD de David Sanborn "Timeagain", da Verve, mais precisamente de "Tequila", faixa em que o brilhante Christian McBride desce para valer com o seu baixo para lá de processado.  Nas dipolares, o que ouvimos?  Sei lá!  Nas de gabinete, tudo que nos emociona num baixo bem tocado e gravado, ainda que com bastante processamento no instrumento.  Esta faixa, como outras do mesmo baixista nos seus CDs solo, são verdadeiros divisores de águas em show-rooms.  Ou seja: você ouve o baixo corretamente reproduzido e articulado, ainda que com muito processamento em cima, ou fica refém do denominado "grave barriga", ininteligível.
Já no CD de pianista Ahmad Jamal, "Rossiter Road", temos nas Dali toda a ambiência dos instrumentos e a extensão das notas dos instrumentos, a ponto de percebermos a ambiência do interior do piano quando Ahmad desce às oitavas mais baixas (aliás, ele adora explorar os extremos do teclado nesta obra, ficando bastante divertida a sua audição).  O contra-baixo sem trastes de James Cammack soa tão flat nas dipolares e tão encorpado nas caixas atuais!  E a percussão, maravilhosa, com mais informação nas de gabinete junto com os demais instrumentos.
Com o mestre do improviso Keith Jarrett, "The Melody At Night, With You", da ECM, quase sem seus famosos "gritinhos".  Cada nota de Keith tem uma extensão definida e sua respectiva ressonância na caixa do piano, o que, com as dipolares, resta diminuída.  Observação:  este CD contém interpretações comportadas - mas magistrais - de clássicos do jazz, diferentemente de suas outras obras geniais de improviso, como o Kohn Concert, Rio etc.
Por derradeiro, ousadia minha tentar descrever Prokofiev em "Cinderella", na regência de Mikhail Pletnev da Orquestra Nacional Russa, da Deutsche Grammophon.  Limito-me a ressaltar um dos seus pontos altos, diria dramático, a faixa 19 do CD 2, "Midnight", em que o pêndulo do relógio parece ir e vir no palco sonoro das Dali, com um curso bem menor nas caixas de fita.  Aliás, é um prazer poder ouvir música sinfônica de forma decente nas Dali Helicon 400 MK2, impossível nas dipolares comentadas.
Enfim, são todas obras que eu adoro, mesmo que não possamos chamá-las de gravações "de referência".  Talvez a de Gary Karr, sim, seja de referência audiófila e a de Keith Jarrett também, pois a ECM não se descuida nas gravações.  A obra clássica de Prokofiev, um pouco comprimida e ligeiramente velada. A de Patricia Barber, ligeiramente over em alguns momentos da linha do contrabaixo.  A gravação de Ahmad Jamal parece arejada e equilibrada.  A de David Sanborn, talvez por estar numa mídia de Super Audio CD, toca muito bem no meu atual sistema.  A gravação de Marcelo Bratke me pareceu bastante neutra, como se os microfones estivessem mais afastados do que deveriam ou com a capacidade reduzida de captar as notas do piano;  o piano pareceu menos encorpado do que realmente poderia soar (não sei ao certo o que ocorreu, talvez microfones melhores fizessem a diferença).  A gravação de estúdio de RTF possui limitações bem nítidas, talvez devido à época em que gravada, meados de 1970 e a remasterização não faz milagres.  Já a gravação ao vivo, esplendorosa, ainda que repleta de processamento, com uma dinâmica de fazer inveja aos CDs de música eletrônica.
Bem, estas são as minhas impressões que me conduziram à escolha das caixas atuais (ou, em alguns casos ratificaram a escolha delas), mesmo que de patamar de preço bem distinto das anteriores.  Como ensina o articulista e fundador da CAVI, Fernando Andrette, "musicalidade não se discute" e "a eletrônica não pode se sobrepor à música".  Critérios objetivos de avaliação de eletrônica e gravações existem e é algo que eu preciso ainda dominar, reconheço.  Mas não me furto de compartilhar as impressões acima, as quais, por mais imprecisas que possam parecer (ou realmente sejam), refletem as minhas sinceras opiniões.  De qualquer forma, estão as considerações supra abertas para futuros comentários dos colegas aficionados ou apaixonados por música do mundo inteiro que queiram agregar conhecimento nos temas deste blog.  Até a próxima postagem.